sexta-feira, 10 de maio de 2013

Chicó e a Comissão Nacional da Verdade

Chicó e a Comissão Nacional da Verdade
 
Muito se tem dito sobre essa comissão. É verdade que essa Comissão não possui nenhuma personalidade emblemática que lutou diretamente contra o regime militar. O nome mais significativo desta comissão na luta contra o militarismo é o da advogada Rosa Maria Cardoso da Cunha. Ela especializou-se na defesa de presos políticos durante a ditadura, foi advogada da Presidenta Dilma Roussef e de seu ex marido - Carlos Franklin Paixão de Araújo. Os outros membros tiveram participações consideradas apenas pontuais contra o regime, como o também advogado José Carlos Dias. Dias foi um dos signatários da Carta aos Brasileiros, redigida em 1977, na faculdade de Direito da USP, repudiando a Ditadura Militar.
 
A Comissão da Verdade foi criada em 18 de novembro, por meio da lei 12.528 e tem como objetivo “esclarecer as graves violações de direitos humanos” praticadas durante o Regime Militar. Ela tem dois anos para apresentar um relatório contendo o resultado das investigações. Todo o acervo elaborado pela comissão será encaminhado para o Arquivo Nacional e integrará o projeto Memórias Reveladas.
 
Feita as apresentações que julguei necessárias, cumpre-me tecer minhas considerações.
 
Primeiramente gostaria de esclarecer que, a meu juízo, essa Comissão deveria, também, ter em sua composição, historiadores e sociólogos, pois, serão estes profissionais que, ao final, compilarão os relatórios e (re)escreverão a história do país referente a este período.
 
De outro lado, vendo quase que diariamente em nossos telejornais, periódicos e na mídia eletrônica notícias sobre esta Comissão, alguns pensamentos me ocorrem, portanto decidi escrevê-los para registrar publicamente o que penso.
 
O objetivo da Comissão Nacional da Verdade é o de esclarecer as graves violações de direitos humanos. Vejamos.
 
O período a ser apurado pela Comissão, já se foi há mais de 50 (cinquenta) anos. É certo que violações a direitos humanos são imprescritíveis. Mas também é certo que o objetivo desta Comissão não é o de punir eventuais personagens que participaram daquele momento. Assim sendo, a apuração de violações ficarão apenas nos anais da história.
 
De outra banda, encontro nas palavras e gestos de alguns políticos e simpatizantes desta Comissão, um tom de revanchismo. Uma sede de vingança sem qualquer noção e desabençoada.
Tais discursos e falatórios diante de meios de comunicação chegam a causar ojeriza, pois, muitos políticos e simpatizantes sequer tinham nascido ou entendiam o que estava acontecendo naquele período.
 
Na realidade, esta Comissão de novidade não encontrará nada de absurdo, nada que já não saibamos. No muito, terá acesso a alguns poucos documentos que indicarão nomes de pessoas que determinaram certos atos (legais ou não) e uma lista “real e concreta” de pessoas que passaram pelos porões da ditadura e que, também já sabemos. E mais nada.
 
O que há que ser entendido é que, naquele período, o mundo dividia-se entre azul e vermelho, certo e errado, bem e mau, capitalistas e comunistas/socialista... efim, chamem do que quiserem.
 
Liderados pelos EUA, grande parte do mundo se viu numa guerra contra os comunistas e seu regime de governo/forma de vida, que, para aquele momento era uma ameaça. Todos os países engajados nessa cruzada adotaram políticas austeras, duras e implacáveis em desfavor de seus adversários. Afinal, detinham o poder!! Faziam parte do Estado.
 
Para aquele momento os meios empregados por quem detinha o poder eram legítimos. Não estou a fazer apologia a qualquer tipo de violência ou violação a qualquer direito (seja humano ou não).
 
O apoio oferecido pelos americanos e o modo como fora pintado o quadro diante das autoridades brasileiras fez com que fosse adotado o regime de exceção imposto “goela abaixo” de todos os brasileiros vivos naquele período. Não pensem que culpo os americanos. Não, não os culpo.
 
É certo que as atrocidades cometidas, sim, elas existiram – basta ouvir os relatos de uns poucos sobreviventes – que não podem ser esquecidos ou tidos com um eco distorcido de nosso passado e que emanam de bocas de alguns poucos malucos que andam por aí. Não, não podemos esquecer estas vozes. Ao contrário, devemos ouvi-las, e, com base em seus relatos nos precaver de algum futuro incerto, insano e/ou repetitivo.
 
No mais, creio que a Comissão da Verdade, se é que existe alguma verdade cristalina neste caso, deveria apurar também os crimes – se é que existiram - do outro lado, ou seja, as violações cometidas pelas pessoas que, impelidas pelo desejo de “liberdade” fizeram-se de desconhecidas de direitos e deveres e pegaram em armas e abusaram de seu poder, matando, intimidando ou arruinando a vida de pessoas que nada tinham com o regime ou com o “luta”.  Deveriam ser ouvidas, por exemplo, algumas personalidades já conhecidas que hoje ocupam cargos públicos ou funções administrativas do Poder. Poderiam apurar, por exemplo, o sequestro do embaixador americano.
 
Em adiantado, penso que a Comissão da Verdade deveria apurar, conjuntamente com o Ministério Público Federal e com a Polícia Federal, os desvios de dinheiro cometidos por políticos, assim como, as parcerias costuradas entre governantes e alguns “empresários”. Deveriam apurar a verdade sobre o desvio de verbas da educação, dos hospitais e de remédios. Poderia ainda a Comissão da Verdade apurar o por quê, depois de 20 anos, o Brasil ainda possui um baixo déficit na apuração de crimes contra a própria população(isto também é violação de direitos humanos) e principalmente um percentual de quase zero na punição efetiva destes malfeitores.
 
A Comissão da Verdade poderia aproveitar o momento de destaque e apurar, por exemplo, onde encontram-se os valores desviado de tantos órgãos públicos, que tinham destino certo. Enfim, trabalho não faltaria, nem material humano para ser ouvido....Afinal, passaram-se pouco mais de 20 anos de “democracia” e, pelo que li, ouvi  e vivi, somente ocorreu mudança na truculência....
 
E, já finalizando, imaginando o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, ouso parafrasear Chicó, em conversa com João Grilo: “Não sei.... Só sei que foi assim...”
 
 
 

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