segunda-feira, 22 de junho de 2015

Será o fim da criminalização do Consumo de Drogas (artigo 28 da Lei Antidrogas)?!?!?!!



O Supremo julgará, muito que provavelmente, no segundo semestre desse ano, um Recurso Extraordinário (RE 635659), com repercussão geral já definida que se resume, basicamente no seguinte:

“Trata-se de recurso extraordinário interposto pelo Defensor Público-Geral do Estado de São Paulo contra acórdão do Colégio Recursal do Juizado Especial Cível de Diadema/SP que, por entender constitucional o art. 28 da Lei 11.343/2006, manteve a condenação pelo crime de porte de drogas para consumo pessoal.
Neste recurso extraordinário, fundamentado no art. 102, inciso III, alínea a, da Constituição Federal, alega-se violação ao artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal.
O recorrente argumenta que o crime (ou a infração) previsto no artigo 28 da Lei 11.343/2006 ofende o princípio da intimidade e vida privada, direito expressamente previsto no artigo 5º, X da Constituição Federal e, por conseguinte, o princípio da lesividade, valor basilar do direito penal. (fl.153).
Observados os demais requisitos de admissibilidade do presente recurso extraordinário, passo à análise da existência de repercussão geral.
No caso, a controvérsia constitucional cinge-se a determinar se o preceito constitucional invocado autoriza o legislador infraconstitucional a tipificar penalmente o uso de drogas para consumo pessoal.
Trata-se de discussão que alcança, certamente, grande número de interessados, sendo necessária a manifestação desta Corte para a pacificação da matéria.
Portanto, revela-se tema com manifesta relevância social e jurídica, que ultrapassa os interesses subjetivos da causa. Nesse sentido, entendo configurada a repercussão geral da matéria constitucional.”

Diante do caso em si, o que se pretende no julgamento deste Recurso é a declaração da (In)constitucionalidade do artigo 28 da Lei 11.343/06, uma vez que, como visto, tal artigo viola o direito a intimidade e da vida privada previsto no inciso X do artigo 5º da Constituição Federal.

Neste sentido, caso seja declarada a inconstitucionalidade do artigo 28 da Lei Antidrogas, o crime previsto (art. 28: “Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas (...) deixará de existir.

Esse entendimento, caso afirmado pelo Supremo Tribunal Federal, poderá ser respaldado e fundamentado da seguinte forma: é garantida a inviolabilidade de sua intimidade, de sua vida privada, de sua honra e da imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação, conferindo-se ao cidadão o direito de impedir que intrusos venham intrometer-se na sua esfera particular[1], que pode ser considerada como conjunto de modo de ser e viver, o direito de o indivíduo viver sua própria vida[2]; sendo legitima a pretensão de estar separado de grupos, mantendo-se o indivíduo livre da observação de outras pessoas[3], reconhecendo-se o “direito à liberdade de que cada ser humano é titular para escolher o seu modo de vida[4].

Tal garantia traduz-se na previsão de que o indivíduo mereça do Estado e dos particulares o tratamento de sujeito e não de objeto de direito, respeitando-lhe a autonomia, pela sua simples condição de ser humano. Assim sendo, incumbe ao Estado garantir aos indivíduos a livre busca de suas realizações de vida pessoal[5], pois ninguém pode ser funcionalizado, instrumentalizado, com o objetivo de viabilizar o projeto de sociedade alheio (...). A funcionalização é uma característica típica das sociedades totalitárias, nas quais o indivíduo serve à coletividade e ao Estado, e não o contrário[6].

Ao falar em respeito à vida privada, estamos a tratar, no fundo, de liberdade. E o índice de liberdade de uma sociedade se mede pela autonomia concedida aos seus cidadãos para decidirem por si mesmos o seu próprio destino. (...) Espaços de liberdade não são dados, mas diariamente conquistados. Conquistados contra usurpações, sufocamentos, sobretudo quando o Estado intervém em nome de um bem supostamente maior, como uma ‘informação mais democrática’ ou a saúde dos indivíduos[7].

Cabe aqui, exatamente neste ponto sobre a liberdade fazer a seguinte pergunta: Será que conquistamos essa liberdade?? Será que somos capazes de usufruir desta liberdade, sem as usurpações ou sufocamentos estatal??

Disto isto, repito, caso seja declarada a inconstitucionalidade do artigo 28 da Lei Antidrogas, a sociedade não terá, como se proteger de usuários que, acobertados pelo manto da declaração da inconstitucionalidade, poderão e cometerão delitos, sob a influência da droga consumida, agora, dentro de suas residências, ficando, inclusive, imunes ao pátrio poder!!

E só para refletir...... Quantos pais, mães e familiares chorarão ao verem seus filhos, consumindo drogas em suas residências, e nada poderão fazer!?!?!?!
#devemosficardeolho#


[1] Costa Jr., Paulo José da. O direito de estar sótutela penal da intimidade. 2. ed. São Paulo: RT, 1995. p. 32.
[2] Silva, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 6. ed. São Paulo: RT,1990. p. 185.
[3] Mendes, Gilmar Ferreira et al. Curso de direito constitucional. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 379.
[4] Voto da Min. Cármen Lúcia, ADI 132-RJ, j. 05.05.2011.
[5] Voto do Min. Luiz Fux, ADI 132-RJ cit.
[6] Voto do Min. Marco Aurélio, ADI 132-RJ cit.
[7] Rosenfield, Denis Lerrer. Liberdade à savessas. O Estado de S. Paulo, 12.03.2012, p. A2.

PEC 171/93 - REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL

Na última quarta feira (17/06/2015) uma Comissão Especial da Câmara dos Deputados aprovou o parecer apresentado pelo relator, Dep. Laerte Bessa (PR-DF). O parecer aprovado prevê a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos de idade para crimes hediondos, homicídio doloso, lesão corporal grave, lesão corporal grave seguida de morte, roubo qualificado.  

A PEC 171/93, seguirá para o plenário da Câmara dos Deputados e deverá ser votada, em primeiro turno, no próximo dia 30.

Dito o fato, sinto-me no dever - de cidadão e de advogado - de fazer o seguinte comentário.

De acordo com o parecer a redução da maioridade penal, do jeito que está aprovada, ao meu sentir, já vem viciada. E vem viciada uma vez que não trata do assunto com a atenção que merece. Uma série de situações que podem ser previstas, já deveriam estar respondidas na própria PEC. Contudo, seu parecer é muito simplório, deixando para o futuro, questões que poderiam ser previstas aqui, no presente. Explico.

Como se observa,  PEC 171/93, tratará da imputabilidade penal de forma defeituosa. Vejamos. 
Para os menores que cometerem os seguintes crimes: hediondos, homicídio doloso, roubo qualificado e lesão corporal grave seguida de morte, serão tratados como imputáveis, ou seja, conhecedores e sabedores dos atos e consequências, respondendo por estes crimes, nos moldes do Código Penal. A sua maioridade penal será "maleável".

Já os menores de 18 anos que cometer qualquer outro delito, não terá sua maioridade penal reduzida.

Diante disso, faço as seguintes perguntas para o futuro: 
1) O princípio da igualdade, previsto na Constituição Federal não está sendo violado??? Se a resposta for sim, poderá esta alteração ser questionada no Supremo?? 

2) Qual juiz será o competente para julgar a ação, o da Vara da Infância e Juventude ou o da Vara Criminal?

3) E o Ministério Público, será o da Vara Criminal ou o da Infância e da Juventude?

4) Caso os autos do processo sejam encaminhados para a Vara Comum, não haveria uma "quebra" da competência??

E quanto ao local de cumprimento da pena? O parecer dispõe de um parágrafo único que esclarece o seguinte: "Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos cumprirão a pena em estabelecimento separado dos maiores de dezoito e dos menores inimputáveis".

Neste tema, faço novos questionamentos:
1) Qual regra seria aplicada durante o cumprimento da pena, o ECA ou a Lei de Execuções Penais?

2) Qual juízo seria o competente para aplicar sanções "administrativas" durante o cumprimento da pena, o da Vara da Infância e da Juventude ou o da Vara de Execuções Criminais??

O cumprimento da pena em estabelecimentos separados dos maiores de 18 e dos menores inimputáveis, não estaria a criar uma nova "população carcerária" ou uma nova "escola do crime"?

Esta previsão de cumprimento da pena em estabelecimento separado não contraria o texto da PEC? Vejamos. 

Se há a previsão e tratamento diferenciado (deixam de ser inimputáveis) para os menores que praticam os delitos ali mencionados, porque eles devem cumprir a pena em locais separados, se deixaram de ser inimputáveis aos olhos da Lei??

Estas e mais perguntas já deveriam estar previstas no texto da PEC 171/93, ora em comento, uma vez que, são estas que serão feitas, num futuro bem próximo, caso seja aprovada a PEC da forma em que se encontra. 

Por fim esclareço que estas palavras servem apenas para alertar a população de que não basta alterar a maioridade penal, da forma simples e medíocre, como está sendo feita. O debate legal e alto nível deve ser considerado e se impor e não apenas esta verborragia populacionista e midiática que se apresenta. Digo isso porque, logo ali, num futuro bem próximo, se o texto for aprovado como está, e as ilegalidades começarem a serem questionadas e decretadas nos Tribunais, NÃO ADIANTA DIZER QUE A CULPA É DA JUSTIÇA!!
#falei#